Contra os equívocos: LUTAR
A ação militar do 25 de Abril foi de sucesso rápido
tal era o estado de degradação do regime. Na noite imediata já com os
responsáveis máximos da ditadura fascista a caminho do exílio, foram
apresentados os membros da Junta de Salvação Nacional e os militares do MFA
anunciaram ao que vinham: restaurar a democracia e implementar a via do socialismo.
Quarenta anos passados temos no governo uma coligação
de dois partidos nascidos depois da revolução, um o PSD que se proclama
social-democrata e o outro o CDS dito democrático – social. Aparentemente esta
abundância de socialismo e democracia na identificação daquelas formações
partidárias deveria querer significar que o espírito do 25 de Abril está em
força no governo da nação.
Ou então trata-se apenas de um equívoco!
Olhemos para a realidade. Este governo elegeu os
reformados como inimigo principal. Ora, até por uma elementar análise da lei da
vida, não há para além de nós outra camada social que mais se possa identificar com o espírito do 25 de Abril que
está a ser atingido.
Da forma como mexeram nas nossas pensões, ficou
provado que estes social-democratas/democráticos-sociais têm muito pouco de
democratas e nada de sociais.
De trás vinha um sistema em que no final da vida ativa
o trabalhador tinha direito a uma pensão no mínimo de 30% e máximo de 70% da
remuneração de referência. Depois o valor máximo subiu para os 80% e a remuneração de referência sofreu
sucessivas alterações até à situação atual em que representa a média mensal dos
melhores 10 dos últimos 15 anos com descontos, contados 14 meses em cada ano.
Acessoriamente foi estabelecido valor máximo para as pensões, que é atualmente
de 5.030,00€, embora permita muitas exceções.
Se por qualquer razão conjuntural houvesse que alterar
este quadro, seria curial por razões de ordem moral, que previamente se suspendessem
as exceções, o que não foi o caso. Entre milhares de casos absurdos avulta o da
presidente da Assembleia da República que não recebe retribuição pelo exercício
do cargo de segunda figura do Estado, porque no quadro das regras de acumulação
optou por ficar com uma pensão muito acima do valor máximo vencida quando mal
tinha feito 40 anos de idade! Pior ainda é a situação do ex-ministro Catroga
que acumula uma pensão que é aproximadamente o dobro do máximo legal, com a
retribuição numa empresa privatizada onde lhe pagam num mês o que um
trabalhador ganha em 5 anos!!! Este senhor tem no seu currículo o exercício de
funções como ministro das Finanças no último governo de Cavaco Silva, onde no
último OGE daquele consulado fez baixar a contribuição dos patrões para a Taxa
Social Única, medida só parcialmente recuperada 5 anos depois. O dinheiro que
meteu e continua a ficar no bolso dos seus amigos daria para cobrir tudo o que
hoje é roubado aos reformados.
O retrato perfeito de toda esta política
social-democrata/democrática-social pode ser aferido pela última proposta do
atual secretário de Estado da Segurança Social que pretende pôr as IPSS´s a
fazer funerais. Incumprido em absoluto o dever de garantir um sistema público
de apoio social aos idosos, a assistência passa a ser funerária…
Assim vai o governo: tudo para os seus amigos e um caixão
para quem levou uma vida a trabalhar.
Por: Manuel Cruz
In – “A Voz dos Reformados”