Hoje, se dá conta que os idosos são cada vez mais abandonados e maltratados. Ao que parece, de acordo com as queixas recebidas na Procuradoria, não há apenas casos de maus tratos físicos ou psicológicos mas, igualmente, de abandono, sobretudo em hospitais. Na maioria dos casos, as agressões partem do seio da própria família.
Chegar a velho devia ser fácil. Ser velho devia ser um privilégio. No
entanto, olhando um pouco à nossa volta e estando atentos ao que se passa no
nosso país à beira mar plantado, deparamos-nos com pensões muito baixas, fome
por falta de dinheiro, medicamentos a encarecer, apoios escassos na saúde,
famílias sem tempo, lares e instituições a abarrotar…
Chegar a velho devia ser fácil. Tal como a criança acabada de nascer e que
vai somando naturalmente ano após ano, um velho é apenas alguém que
naturalmente tem a soma de muitos anos. No entanto, ao contrário da criança que
nada sabe , um velho tem toda a sabedoria e a experiência adquiridas ao longo
de muitos anos. Não tenho dúvidas que ser velho devia ser um privilégio.
Os países medem-se pela qualidade de vida dos seus cidadãos e pela forma
como trata os mais desprotegidos. Os idosos estão nesta categoria. Aí
Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer.
As pessoas trabalham uma vida inteira e quando chega o tempo em que podiam e
deviam gozar os anos que lhes restam deparam-se com as dificuldades de
pertencerem a uma sociedade hedonista e narcisista que não sabe olhar
para a diferença com tolerância, respeito, dignidade e amor.
Isto deve mudar, mas não apenas ao nível do Estado. As familias, os
amigos a sociedade em geral devem olhar para os idosos com respeito, dignidade
e acima de tudo carinho e atenção. Não é justo que tantas pessoas idosas
anónimas vivam uma vida inteira e acabem os seus dias na decadência e solidão
que abraça a muitos. Respeitar os mais velhos é acima de tudo respeitar-nos a
nós próprios.
Muitas vezes assistimos a decisões de Estado que parecem nada ajudar os
idosos deste país. Não são apenas apoios monetários que fazem falta. Falta,
igualmente, a nível nacional, a exemplo do que tem sido feito por diversas
instituições, criar uma rede social de parcerias especializadas que apoie
idosos nos seus domicílios ou onde quer que eles se encontrem. Mas um papel
fundamental diz respeito às famílias.
As famílias devem ter igualmente apoios em áreas que não dominam no cuidado
aos mais velhos. Mas a responsabilidade da família não chega apenas quando tem
idosos no seu meio. Deve começar desde o momento em que se forma e à medida que
vai crescendo com uma mentalidade altruísta, onde se aprende a conjugar o verbo
amar.
E depois, “velhos são os trapos”. Os idosos podem e devem ter um papel
preponderante no contexto em que se inserem. Na família, eles são os avós que
podem minorar as despesas do agregado apoiando no cuidado dos netos.
Nos lares e instituições, eles podem contribuir com a sua sabedoria e
experiência desafiando as gerências daqueles para uma interacção local onde
possam partilhar as histórias e tradições passadas de geração em geração.
Nas casas que os viram envelhecer e onde se debatem com a solidão, eles
devem ser apoiados e encorajados com visitas que facilmente podem ser
organizadas a nível autárquico/juntas freguesia. Em Portugal, por exemplo, já
há bancos que dão aos funcionários uma tarde por semana para fazerem trabalho
de voluntariado e a mudança que isso representa é significativa por ser uma
forma de ajudar alguém a dar um sentido à vida.
Às vezes só custa dar o primeiro passo e é preciso arriscar. Às vezes é
preciso ser como a tartaruga. Se todos os dias ela não arriscar sair da casca
ela nunca vai conseguir ir a lado nenhum.
“Uma sociedade que não ama nem respeita os seus mais velhos é uma sociedade desumanizada, sem alma, sem futuro”.
(Simone de Beauvoir)
Sem comentários:
Enviar um comentário