“Em português dizemos pessoas de idade. Num caso e no outro trata-se de eufemismos para fugir à aborrecida palavra ‘velhos’, que podendo e devendo ser tomada como uma afirmação vital (‘Vivi e estou vivo’), é, com demasiada frequência, lançada à cara do idoso como uma espécie de desqualificação moral. E, contudo (usa-se ainda?) uma resposta definitiva, fulminante, dessas que tapam a boca ao interlocutor: ‘Velhos são os trapos’, respondiam os velhos do meu tempo a quem se atrevesse a chamar-lhes velhos. E continuavam com o seu trabalho, sem darem mais atenção às vozes do mundo. Velhos seriam, claro, mas não inúteis, não incapazes de meter a sovela no lugar certo do sapato ou de guiar a relha do arado com que andasse lavrando. A vida tinha uma coisa má: era dura. E tinha uma coisa boa: era simples.
Hoje continua a ser dura mas perdeu a simplicidade. Talvez tenha sido esta percepção, formulada assim ou doutra maneira, que faz nascer a ideia de criar uma universidade para pessoas de idade em Castlla-La-Mancha, essa que precisamente se chama Universidad para Mayores e de que tenho a honra de ser patrono. Pessoas a quem a idade obrigou a deixarem o seu trabalho, que fazer com elas? Outras em quem a idade fez nascer a curiosidade que até então não se haviam experimentado, que fazer com elas? A resposta não tardou: criar uma universidade para as gerações de cabelos brancos e rugas na cara, um lugar onde pudessem estudar e descobrir mundos do conhecimento ocultos ou mal sabidos. Cada uma dessas pessoas, cada uma dessas mulheres, cada um desses homens, pode dizer quando abra um livro ou escreve a resposta a um questionário: ‘Não me rendi!’. Nesse momento uma aura de juventude rediviva perpassa-lhes o no rosto, em espírito é como se estivessem sentados ao lado dos netos, ou foram eles que se vieram sentar ao lado dos maiores. O conhecimento une cada um consigo mesmo e todos com todos.
Qualquer idade é boa para aprender. Muito do que sei aprendi-o já na idade madura e hoje, com 86 anos, continuo a aprender com o mesmo apetite. Não frequento a Universidade para Mayores Castilla-La-Mancha (lá irei um dia), mas partilho a alegria (diria mesmo a felicidade) dos que lá estudam, esses a quem me dirijo com estas palavras simples: Queridos Colegas.”
Hoje continua a ser dura mas perdeu a simplicidade. Talvez tenha sido esta percepção, formulada assim ou doutra maneira, que faz nascer a ideia de criar uma universidade para pessoas de idade em Castlla-La-Mancha, essa que precisamente se chama Universidad para Mayores e de que tenho a honra de ser patrono. Pessoas a quem a idade obrigou a deixarem o seu trabalho, que fazer com elas? Outras em quem a idade fez nascer a curiosidade que até então não se haviam experimentado, que fazer com elas? A resposta não tardou: criar uma universidade para as gerações de cabelos brancos e rugas na cara, um lugar onde pudessem estudar e descobrir mundos do conhecimento ocultos ou mal sabidos. Cada uma dessas pessoas, cada uma dessas mulheres, cada um desses homens, pode dizer quando abra um livro ou escreve a resposta a um questionário: ‘Não me rendi!’. Nesse momento uma aura de juventude rediviva perpassa-lhes o no rosto, em espírito é como se estivessem sentados ao lado dos netos, ou foram eles que se vieram sentar ao lado dos maiores. O conhecimento une cada um consigo mesmo e todos com todos.
Qualquer idade é boa para aprender. Muito do que sei aprendi-o já na idade madura e hoje, com 86 anos, continuo a aprender com o mesmo apetite. Não frequento a Universidade para Mayores Castilla-La-Mancha (lá irei um dia), mas partilho a alegria (diria mesmo a felicidade) dos que lá estudam, esses a quem me dirijo com estas palavras simples: Queridos Colegas.”
in: Blog de Saramago(caderno.josesaramago.org)
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