Era uma vez ...
Milhares
de reformados, após a Revolução de Abril, procuraram organizar-se,
criando Comissões de Reformados sob o impulso do Movimento Unitário
de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI).
Sem direito a uma
pensão, destituídos de qualquer proteção social, remetidos
à pobreza e à indigência a que o regime fascista os condenou, cedo se aperceberam
da necessidade de se organizarem, dando mais força
ao projeto do MURPI que encetou centenas de lutas que conduziram à grande
maioria das conquistas sociais, posteriormente consagradas na
Constituição da República Portuguesa.
Tiveram como aliados as lutas
dos trabalhadores e a força emergente do Poder Local
Democrático, que cedo compreendeu e contribuiu para o reforço
das reivindicações dos reformados e pensionistas.
O MURPI tornou-se a força motora na criação e
formação de milhares de dirigentes que, norteados pelos
princípios democráticos e ação unitária,
souberam construir centenas de Associações Unitárias de Reformados em todo o
país.
O MURPI sempre exigiu ter estatuto de parceiro social
O MURPI, sempre
incompreendido e rejeitado pelo poder contra revolucionário que se instalou
nos governos constitucionais, negando o direito de ser considerado como parceiro
social, soube, através da luta persistente mobilizar e consciencializar milhares
de reformados na defesa dos seus direitos consagrados constitucionalmente.
Ao longo das décadas,
quase 40 anos da Revolução de Abril, foram
operadas profundas alterações sociais, políticas e económicas.
Mais reformados e cada vez mais
idosos
A sociedade portuguesa
tornou-se mais envelhecida, o número de reformados e pensionistas aumentaram de
forma significativa, alguns dos quais obrigados pela força dos despedimentos
das grandes empresas privatizadas.
Os padrões do consumo
alteraram- se, registou-se melhoria do bem- estar, maior acesso à educação,
à saúde e à protecção social
Muitas das Associações enveredaram por estabelecer
acordos com a Segurança Social, assumindo o estatuto de IPSS, para
darem respostas sociais-aos idosos mais carenciados. Por esta via, perderam a
independência em relação ao poder político que cada vez mais procurava
intrometer-se na gestão das atividades das Associações, à margem
da participação democrática dos seus associados.
Desenvolveram-se múltiplas
atividades recreativas, lúdicas, culturais e de convívio, ao
mesmo tempo que se foram registando fenómenos de alienação da defesa dos direitos dos
reformados que continuam fortemente ameaçados pela política de
direita de sucessivos governos.
O MURPI é ativo e
necessário
Pela
ação combativa e persistente de inúmeros dirigentes
de reformados do MURPI aos mais diversos níveis das organizações, Confederação, Federações e
Associações, a luta pela defesa dos direitos dos reformados mantém-se perene
e atual.
Se é verdade que profundas alterações
sociais e culturais foram registadas ao longo destas décadas, não
deixa de ser preocupante a regressão social e
cultural que se vem intensificando, na última década, com a acentuação
da crise financeira e das medidas de austeridade e empobrecimento generalizado
com maior expressão na camada social dos reformados e
pensionistas; esta situação não é nova, pois
o risco da pobreza, em Portugal, sempre sobressaiu entre os idosos e as crianças, sendo cada
vez mais destacado o fosso entre pobres e ricos, maiores as desigualdades e injustiças sociais
e manifesto os fenómenos da pobreza e da exclusão social.
O poder reivindicativo desta camada
social, mais atingida pelas medidas de austeridade, foi enfraquecendo, resignado às medidas
de caráter assistencialista e caritativo desenvolvido pelas IPSS, com o
apoio do Banco Alimentar e de outras medidas misericordiosas.
Novos passos são
necessários
Este retrocesso
social, de alienação dos direitos que dignificam a condição
humana, necessita um novo tipo de intervenção, que
desenvolva, de forma criativa e interventiva, todas as formas de luta que travem este processo de degradação social que a pobreza induz, e reverta para uma maior e melhor mobilização todos os reformados que aspiram o direito a ser respeitados na sua dignidade de cidadão e de cidadã.
Esta é uma
tarefa permanente e intensa que deve ser reforçada nas estruturas organizativas do
MURPI.
Os reformados que estão organizados
nas suas Associações devem sentir que os dirigentes estão atentos e
interventivos na defesa e mobilização das suas consciências, conciliando
os seus interesses imediatos com a necessária unidade nas lutas pela defesa dos problemas
locais relacionados com o acesso aos cuidados de saúde, à necessária
defesa do seu poder de compra, à luta pela defesa da sua mobilidade, à proteção social em caso de dependência e a todas as
expectativas legítimas relacionadas com o envelhecimento humano.
E
porque noutras organizações?
Os nossos objectivos
são abrangentes, englobando não só o direito às pensões condignas, mas
também, pelo direito ao desenvolvimento cultural, pelo são convívio, pelo direito
ao lazer e também pela solidariedade entre várias gerações,
querendo assegurar os mesmos direitos aos atuais e futuros trabalhadores que entrarem na reforma.
Hoje, como há
décadas, os reformados continuam a precisar da força do MURPI.
Hoje, como dantes, os reformados esperam
dos seus dirigentes, militantes de causas
nobres
que promovam o bem-estar dos reformados e pensionistas.
Temos razão, quando afirmamos que os reformados precisam cada vez mais de um MURPI forte e interventivo