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Os
últimos anos do fascismo ficaram caraterizados por muitas operações de
cosmética com vista a encobrir a verdadeira face daquela
premonição de Abril e regime terrorista. A mais conhecida foi a que mudou o nome da polícia política de PIDE para DGS, mas terá passado despercebida a muita gente a
alteração da designação no edifício da Praça de Londres onde o nome de
Ministério das Corporações e Previdência Social
foi mudado para Ministério da Corporações e Segurança Social (MCSS). Como
alguém disse então, apenas mudaram as moscas ...
Por essa altura José
Saramago pôs- se a ouvir Beethoven e desse encontro imaginário de dois
revolucionários resultou um dos mais belos poemas do século vinte. Cuja
última quadra
começa assim:
começa assim:
Mas quando nos
julgarem bem seguros, cercados
de bastões e fortalezas ...
Entretanto chegava o ano
de 1974 e o tal MCSS prossegue na sua linha de atuação. A produção legislativa
fica-se pela aprovação do regulamento
do Instituto de Formação Social e Corporativa, a
criação do Fundo de Desenvolvimento
de Mão de Obra, uma pequena alteração
no fórmula de cálculo das
pensões, o enquadramento na previdência dos vendedores ambulantes de leite e dos barbeiros por conta própria e, para finalizar, já em Abril, a integração dos membros do clero
diocesano como beneficiários da previdência.
Dava
a ilusão de que reinava a paz dos cemitérios.
Os fascistas provavelmente
não teriam lido o poema do Saramago. O dia
25 aproximava-se e vale a pena recordar
os dois últimos versos da tal última
quadra:
hão-de ruir
em estrondo
os altos muros e chegará o dia
das surpresas.
Claro que isto, mais tarde ou mais cedo, tinha que dar em prémio Nobel.
Que ainda demorou e ficou com um hiato, pois a academia sueca anunciou como titular daquele alto galardão o autor do poema, quando afinal o verdadeiro destinatário do prémio foi o povo de Abril.
Que ainda demorou e ficou com um hiato, pois a academia sueca anunciou como titular daquele alto galardão o autor do poema, quando afinal o verdadeiro destinatário do prémio foi o povo de Abril.
Manuel
Cruz
In: A Voz dos Reformados
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