sexta-feira, 28 de março de 2014

A premonição de Abril



Foto da Internet


Os últimos anos do fascismo ficaram caraterizados por muitas operações de cosmética com vista a encobrir a verdadeira face daquela premonição de Abril e regime terrorista. A mais conhecida foi a que mudou o nome da polícia política de PIDE para DGS, mas terá passado despercebida a muita gente a alteração da designação no edifício da Praça de Londres onde o nome de Ministério das Corporações e Previdência Social foi mudado para Ministério da Corporações e Segurança Social (MCSS). Como alguém disse então, apenas mudaram as moscas ...

Por essa altura José Saramago pôs- se a ouvir Beethoven e desse encontro imaginário de dois revolucionários resultou um dos mais belos poemas do século vinte. Cuja última quadra
começa assim
:

 

Mas quando nos julgarem bem seguros, cercados de bastões e fortalezas ...

 

Entretanto chegava o ano de 1974 e o tal MCSS prossegue na sua linha de atuação. A produção legislativa fica-se pela aprovação do regulamento do Instituto de Formação Social e Corporativa, a criação do Fundo de Desenvolvimento de Mão de Obra, uma pequena alteração no fórmula de cálculo das pensões, o enquadramento na previdência dos vendedores ambulantes de leite e dos barbeiros por conta própria e, para finalizar, já em Abril, a integração dos membros do clero diocesano como beneficiários da previdência.

Dava a ilusão de que reinava a paz dos cemitérios.

Os fascistas provavelmente não teriam lido o poema do Saramago. O dia 25 aproximava-se e vale a pena recordar os dois últimos versos da tal última quadra:

 

hão-de ruir em estrondo os altos muros e chegará o dia das surpresas.

 

Claro que isto, mais tarde ou mais cedo, tinha que dar em prémio Nobel.
Qu
e ainda demorou e ficou com um hiato, pois a academia sueca anunciou como titular daquele alto galardão o autor do poema, quando afinal o verdadeiro destinatário do prémio foi o povo de Abril.

Manuel Cruz  
In: A Voz dos Reformados

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