quarta-feira, 23 de junho de 2010

República, 100 anos

A República e os Trabalhadores

No movimento que levou à implantação da República foi importante a intervenção dos trabalhadores e da classe operária, que embora não tivesse ainda grande expressão, uma vez que o país era essencialmente rural, tinha desde os finais do século XIX constituídas as primeiras associações de trabalhadores.
Dez anos antes da implantação da República havia já um movimento sindical organizado que promoveu greves e lutas. Assim, a República côa as sua promessas de mais justiça social e melhores condições de vida para os trabalhadores foi apoiada e defendida com grande entusiasmo pelos trabalhadores.
As promessas que tinham sido feitas ficaram muito aquém das aspirações das massas trabalhadoras, houve importantes medidas como a laicização do Estado e as medidas tendentes a democratização da instrução, e direitos democráticos, mas a lei eleitoral não contemplou as mulheres nem os analfabetos, o que afastava da participação cívica cerca de 70% da população.
Se é um facto que os operários e outros trabalhadores viram na República uma mudança e a esperança de uma vida diferente, o que é verdade é que eram da burguesia os principais dirigentes, e que uma vez conquistado o poder, foram os interesses da burguesia que se defenderam.
Logo em 1910, no Governo Provisório presidido por Teófilo Braga foi publicada a lei da greve e do lock-out com a intenção de reprimir as greves e os trabalhadores.
Em 1911 a greve das operárias conserveiras foi violentamente reprimida tendo provocado a morte a uma operária e um outro trabalhador. Em, 1912, setecentos sindicalistas foram presos e enviados para o Forte de Sacavém.
Estas prisões, que não fizeram enfraquecer a luta dos operários, pouco eco ou nenhum tiveram nos movimentos de defesa dos direitos cívicos nascidos com a república. Por isso de dizia então: “O que a burguesia trouxe a burguesia levou…”

Louvor do Revolucionário

Quando a opressão aumenta

Muitos se desencorajam

Mas a coragem dele cresce.

Ele organiza a luta

Pelo tostão do salário, pela água do chá

E pelo poder no Estado.

Pergunta à propriedade:

Donde vens tu?

Pergunta às opiniões:

A quem aproveitais?

Onde quer que todos calem

Ali falará ele

E onde reina a opressão e se fala do Destino

Ele nomeará os nomes.

Onde se senta à mesa

Senta-se a insatisfação à mesa

A comida estraga-se

E reconhece-se que o quarto é acanhado.

Pra onde quer que o expulsem, para lá

Vai a revolta, e donde é escorraçado

Fica ainda lá o desassossego.

Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'

Tradução de Paulo Quintela


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