sábado, 14 de julho de 2012

Ecos de um Interior fechado para balanço


 

Uma viagem por entre ameaças e concretizações de encerramentos: tribunais, escolas, extensões de saúde, transportes... Estarão a desistir de nós?

O TRAJETO que nos trouxe até aqui foi traçado no caminho dos ajustes e dos reajustes a uma realidade de perdas. Hoje, somos as réplicas de um abanão económico e social de décadas que deixou profundas feridas na paisagem social. A geografia tornou-se, em vastas áreas da Beira Interior, agreste e a desagregação demográfica deste território tem sido pontuado pelos factos e pelas ameaças.

A demografia tornou-se o pesado fardo de uma Beira Interior em contínuo processo de regressão populacional. Um velho paradigma rural encetou acentuada desagregação rumo ao final de uma história que há muito se adivinha. A região redefiniu-se pela ausência. Pelos que não nascem e pelos que partem em sucessivas vagas. Escusado será referir que esta é a origem de quase todos os ajustes e reajustes. Em derradeira instância é infinitamente mais simples readaptar os serviços públicos existentes ao número dos que os usufruem do que criar condições que estanquem o esvaziamento de toda uma região.

Tribunais, extensões de saúde, transportes públicos, escolas. Entre as ameaças e as concretizações, o mapa da Beira Interior é terreno preferencial por quem define que para menos terá que haver sempre cada vez menos e cada vez mais longe. A agregação de serviços numa geografia em desagregação, de populações rurais rarefeitas por entre um eixo urbano que vai amortecendo, sempre na medida do possível, os furiosos embates dos fluxos do despovoamento. São os derradeiros bastiões de defesa, mas a saída é demasiado intensa, demasiada apelativa pela premência do quotidiano. Guarda, Castelo Branco, Covilhã e Fundão e os seus eixos de influência concentram o vigor disponível de uma oposição à fatalidade do esvaziamento e coabitam, lado a lado, com um mundo rural que  se libertou das datadas dinâmicas que vingaram noutros horizontes temporais, aqueles impostos pela pobreza honrada num quotidiano de sobrevivência e que ainda não se reencontrou.

As escolas foram o primeiro reflexo disto tudo. À porta de centenas de aldeias por toda a Beira Interior chegou, ao longo das últimas décadas, o toque de retirada dos poucos resistentes nas semi-esquecidas salas de aula. A ordem foi reagrupar. Toque a reunir. Criaram-se centros escolares nas sedes de concelho e deixou-se erguido mais um tributo ao insustentável peso do despovoamento que nos ameaça quebrar. Algumas escolas resistiram até ao último aluno que escutava o último professor. Para muitas outras, o definhamento não chegou a tal. A tal ordem de que com menos de 20 alunos não haveria condições para manter as escolas em funcionamento. E 20 alunos é ambição desmedida para quase todas as aldeias da região localizadas em territórios iminentemente rurais. Reagrupem-se, então. Em 2010 anunciava-se o encerramento, por todo o país, de 900 escolas. Em 2011, reiterou-se a ameaça para mais 297. Fácil de perceber onde irá recair o grosso desta medida.

Mas a rede não se limitou a apertar com os despojos destes pequenos mosaicos de Portugal. As próprias vilas e cidades sedes de concelho vêm-se envolvidas neste toque em retirada de serviços públicos.


JF 11 Jul 2012