quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

GREVE GERAL E VIOLÊNCIA DO GOVERNO

  Em Setembro, na manifestação do dia 15, parecia o céu aberto, com a saída espontânea de tanta gente que se juntou na Praça de Espanha, em Lisboa. Eram a indignação e o protesto. Foi também o "elogio" da liberdade inorgânica, indo-se ao extremo de alguns indigentes que por ali andavam dizerem mal de sindicatos e partidos... Pois, sim. Mas no final desse mês, no dia 29, a Praça do Comércio e muitas ruas de Lisboa encheram-se de gente organizada e com consciência interventiva que afirma nos locais de trabalho, nas zonas de residência, no desemprego e ao lado de milhares de trabalhadores que todos os dias vão e vêm de casa ou do quarto alugado para o trabalho. Trabalhadores que prestam atenção sofrida e revoltada ao que se passa e que lutam contra a destruição de direitos, da economia e da independência do País, levada a cabo por este Governo nefasto do PSD/CDS-PP. Não esquecem o papel principal do PS nos governos anteriores. Guterres e José nSócrates, antes e depois de Durão Barroso e Santana Lopes, foram primeiros- ministros da obediência cega aos patrões de neoliberais de pacotilha como são agora Passos Coelho, Gaspar e Miguel Relvas, entre outros "governantes" de opereta e de miséria ética e moral instalada. Perante o que aconteceu em 29 de Setembro e no crescendo de lutas, face a essa manifestação magnífica da função pública e à concentração em São Bento, no dia 31 de Outubro, o Governo, o Ministério da Administração Interna e os operadores das secretas e do silêncio repressor organizaram-se e construíram a oportunidade para darem um golpe superior, na vigilância e na actuação concertada que levam a cabo. No dia 31 de Outubro, até às 24 horas, as televisões não deram imagens da manifestação da função pública e da concentração em São Bento, no dia da votação inicial do Orçamento do Estado. Deram a violência dos petardos, de tentativas de enfrentamento de provocadores encartados contra a polícia. Essa foi a "experiência" já transmitida exaustivamente em directo pelas televisões, desde o cair da noite, como se tudo o mais não tivesse existido, a manifestação enorme, a intervenção de Arménio Carlos, a decisiva demonstração de força organizada que foi a concentração dessa tarde. Na preparação da greve geral de 14 de Novembro, a repressão nas empresas e a presença policial face aos piquetes de greve, comandada a altos níveis, já foi violenta e desmascarava o que aí viria. No dia 14, a manifestação foi extraordinária, com milhares de trabalhadores que vieram de todos os lados, sem transportes públicos, mas vieram para expressar, do Rossio a São Bento, a revolta e a força organizada que nos caracteriza. As televisões, nesse dia e no dia seguinte, pouco ou nada disseram da greve geral enorme, dos piquetes de greve, da força e do prestígio da CGTP, da postura da UGT, que viu ir à greve perto de trinta sindicatos que ainda tutela mas têm trabalhadores que não cedem como desejaria. Às cinco horas da tarde, a manifestação e as intervenções tinham acabado. Quem percebe de movimentações orquestradas em situações assim viu deslizarem os que tinham orientações para ocuparem a frente de provocação perante os polícias dispostos na escadaria e adjacências do Palácio de São Bento. Esses trabalhadores conscientes e organizados viram isso e tentaram influenciar aqueles que queriam ficar a assistir, na indignação e na raiva que, às vezes, até podem dar moldura humana ao que é perigoso e extremamente negativo para o trabalho e as lutas que hão-de vir. Parecia que "o patamar superior da revolução" era atirar pedras aos polícias... Que todos aproveitem o que foi visível e o que era invisível e hipócrita por parte do Governo e dos altos comandos da polícia e das secretas. Quase duas horas de pedradas, de petardos, de poucos provocadores e provocadoras que serviram para prejudicar e ocultar a força imensa da greve geral, o acontecimento maior desse dia. Havia polícias à paisana desesperados por não terem ordem para impedir os profissionais de arrancar e atirar pedras da calçada. Um a um, teriam sido identificados e a coisa acabaria ali. Mas isso não servia o passo superior da repressão que o Governo e o ministro da Administração Interna tinham ordens para praticar nesse dia. Quando a situação estava madura, um megafone deu um aviso mal ouvido, de cinco (!) minutos para todos se retirarem... Os experientes provocadores desapareceram quando a polícia entrou no largo e bateu sobretudo em gente que estava ali porque a raiva mal orientada e expectante não os deixava ir para casa. Houve feridos, prisões também em outras zonas da cidade, houve o espectáculo da arrancada da polícia pelo largo e ruas afins, repetido até à exaustão para isso mesmo, nas televisões, para meter medo e avisar que tudo passou a ser diferente, e caiu a máscara de Miguel Macedo e de comentadores e orientadores televisivos de serviço ao corte e à censura. Acabou a "boa vontade em democracia" do Governo e, sobretudo, a desatenção de quem tem de estar atento e consciente. Em qualquer situação, seja onde for, na empresa, na manifestação, na concentração e em todas as lutas, os trabalhadores e as trabalhadoras, os desempregados e as populações revoltadas são dignos de se revoltarem e têm todo o direito de o fazerem. Mas os provocadores "espontâneos" ou pagos serão para isolar determinadamente e para remeter aos diversos papéis que têm contratualizado com os patrões e o Governo, com os serviços secretos e seja quem for que lhes paga para prejudicarem lutas, greves locais e greves gerais e outras batalhas que hão-de crescer e virão a ser realizadas. Cá estarão os trabalhadores, os desempregados, os jovens e as mulheres, as populações revoltadas e lutadoras, os que estão organizados em sindicatos e forças políticas e sociais revolucionárias, para levarem a cabo as lutas necessárias e desmascararem os objectivos e a hipocrisia dos governantes, para isolarem os seus apaniguados de serviço nas ruas e na provocação profissionalizada que se tornou muito mais evidente e perigosa no dia da greve geral.
 
Modesto Navarro