terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Médicos de Família

  
                                                            IMPEDIDOS DE FAZER URGENCIAS
Por: José Laço

 
A proibição resulta de uma circular normativa da ARS  e o Cento Hospitalar Cova da Beira teve de contratar a uma empresa médicos tarefeiros "nem sempre especializados em medicina geral e familiar"». O HOSPITAL Pêro da Covilhã está a enfrentar dificuldades na elaboração de escalas médicas depois de 26 clínicos gerais e médicos de Medicina Geral e Familiar do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Cova da Beira terem ficado legalmente impedidos de assegurar urgências hospitalares.
A proibição foi comunicada ao Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB) no dia 8 de agosto através de uma circular normativa emitida pela Administração Regional de Saúde do Centro, dando conta que os médicos deixariam de ter enquadramento legal (Decreto- Lei 266- D/20 12, de 31 de dezembro) para realizar trabalho nas urgências hospitalares devendo, por isso, cessar funções em setembro. Diligências feitas pelo
CHCB permitiram que os m
édicos permanecessem escalados até 1 de outubro.»
in Jornal do Fundão, 16 de Outubro de 2013 «Perante esta deliberação, o CHCB teve de recorrer a uma empresa de prestação de serviços médicos, tirada de uma lista da Administração Central de Serviços de  Saúde, e não lhe foi permitido escolher outras empresas, em particular aquelas a que pertencem médicos de família que prestavam serviço na urgência hospitalar ao longo dos últimos anos.
No entanto, a Dra. Rosa Ballesteiros, Directora Clínica do CHCB, que não se mostrou muito favorável a esta decisão da Administrão Regional de Saúde do Centro, espera que esta situação possa voltar ao ponto de partida, sublinhando a "longa colaboração que permitiu um ótimo atendimento a doentes em situação de urgência", até porque, sublinha, "temos conhecimento do interesse dos médicos em prosseguir a colaboração.
E tudo isto vem a propósito dos cortes na despesa. Esta contratação traz vantagens económicas para o Hospital mas não garante um atendimento especializado como se depreende das palavras da Dra. Rosa Ballesteiros. E com este decreto a saúde não melhora é o que nos leva a concluir da decisão tomada.»
in Jornal do Fundão, 17 de Outubro de 2013
O país continua com destino incerto
E o que vimos observando, nesta longa caminhada de 30 meses, é a ideia fixa deste governo, promover lentamente a ruína do Estado Social, com corte aqui, corte além, devagarinho, para não levantar brado, até que surja o momento da extinção total.
Há urna acentuada falta de sensibilização deste governo, o não sentir os gritos abafados das classes mais desprotegidas, que quase sempre não têm a refeição normal para pôr na mesa. Esta indiferença, esta falta de afeição por quem sofre, esta frieza, perante famílias que, tantas vezes, têm como refeição pouco mais do que um naco de pão, é de espantar. E, alheio a esta miséria extrema, não evita que esta classe, de  reduzidíssimos recursos, seja apanhada em igualdade de circunstâncias na teia de impostos ou taxas que este governo vai lançando, como seja o aumento da aplicação de taxas sobre a água, a eletricidade, os transportes, o iva sobre os produtos alimentares, aqui com outra agravante para a indústria hoteleira, que se encontra à beira do encerramento catastrófico de mais de um milhar de restaurantes por não poderem suportar as despesas.
Estes impostos aplicados na compra de produtos ou lançados nos recibos da água ou da eletricidade não distinguem classes pois a taxa é igual para todos. E aqui sente-se a classe mais dependente, que vê os seus bolsos ficarem cada vez mais vazios e as aflições a correrem como um frémito pelo corpo, deixando-lhe a pergunta sussurrada: "E agora, como vai ser?". As dores agudas de milhares de famílias, quando chega a hora da refeição e pouco há para pôr na mesa, não o sente quem decreta, porque desconhece ou finge ignorar este outro lado do país: o país empobrecido, o país dependente, que, insolvente, se socorre das instituições beneméritas, que estão sempre alerta para estas graves situações.
Trata-se, pois, de um governo que, desde que tomou posse, arvorou a bandeira da destruição do Estado Social, fazendo constantes cortes na saúde, no ensino, na segurança social, nas verbas destinadas ao tratamento de doentes, na congelação de pensões e implantando taxas sobre produtos essenciais, um grande peso na bolsa dos portugueses de mais parcos recursos e que se faz sentir em muitos milhares de lares, que não têm uma alimentação capaz e se vêem em dificuldade para adquirir os materiais escolares para os filhos. Reduz-se o subsídio aos doentes com baixa médica, o mesmo sucedendo no subsídio de desemprego.
Todos estes ataques à bolsa dos portugueses estão a colocar os mais vulneráveis à beira de um ataque de nervos, quando vêem a ameaça da fome a aproximar-se da porta de entrada das suas casas.
E perante este quadro arrasador o governo não desiste de despedir milhares de trabalhadores da função pública, professores na sua maior parte, para obstar a uma diminuição de despesas. E é sempre a classe mais vulnerável a pagar a crise: assim regem os destinos deste país os governos que temos tido e que sempre tomam decisões apoiados em muralhas fortes, o seu sustentáculo, porque as mais fracas podem ruir e criar um cataclismo de repercussões incalculáveis.
E o governo corre porque o tempo pode faltar-lhe para concluir o projecto demolidor que elaborou. E então é vê-lo a traçar planos penalizadores para o povo português, sem se importar que o pão, tão lembrado pelas crianças, nem sempre já apareça na mesa dos mais pobres, que são já muitos.
E os políticos que decretam sabem que assim é. Sabem, portanto, quanto custa o orçamento nas suas casas e, se fizerem um pequeno esforço de raciocínio, para poderem avaliar as suas consequências, calculam como devem viver muitos milhares de portugueses, quando regularmente nem o valor de um ordenado mínimo entra em casa. Espantados? Mas é a realidade, triste, dorida, amargurada, mas é assim que um terço da população vive, arrostando dificuldades e suportando mágoas abafadas, para que os filhos não percebam o estado de indigência que assolou a sua casa.
E os pais sofrem. Sim, sofrem, porque é muito duro querer alimentar a família e não dispor de condições para o fazer. E se algum pingo de sensibilidade corre nas veias dos políticos que nos governam, que façam um exame de consciência sobre as leis que fazem aprovar no que concerne ao trabalho e às pensões e imaginem-se um mês com o vencimento desses trabalhadores e pensionistas, e depois façam as contas, para verem para quantos dias chegam esses vencimentos nas suas casas. Estupefactos? Sim, dava para poucos dias o que para os trabalhadores e pensionistas tem de chegar para um mês. As grandes desigualdades topam-se em todos os lugares da sociedade. E perduram. Até quando?
Nota: por motivos de saúde não me foi possível, neste trimestre, escrever o que
era habitual
. Entretanto um Bom Natal para os todos os que me lêem e a quem perguntar por mim.

 

(21 de Dezembro de 2013)

 

 

 
lat-liga dos amigos do Tortosendo - boletim n".85 - 4° .trimestre/2013




sábado, 22 de fevereiro de 2014

TORTOSENDO ... FALADO

Reproduzimos este texto "roubado" no Boletim da LAT
Diz quem sabe que a maioria dos portugueses só entende o sentido e o significado de  seiscentas palavras e nestas já estão as do dia a dia, ou seja, as de uso comum. De muitas outras têm apenas uma ideia aproximada e, de algumas, que são muitas, não têm qualquer compreensão. Uma escolaridade deficiente e o pouco hábito e gosto pela leitura explicam esta situação de empobrecimento generalizado.
Hoje disfarça-se um pouco com a erudição dos programas mais pobres da televisão que alguém classificou pouco estimulantes e muito estupidificantes.

É verdade, também acontece com frequência, que quem escreve e fala para o público parece estar pouco preocupado com ele e com a sua capacidade de  aprendizagem e de compreensão. Mesmo na imprensa regional, a mais lida pelo povo em geral, tudo convida para se ficar nas notícias lá da terra ou numa ou noutra coisa, que, pelo título,chame a atenção. Os artigos de formação são normalmente, longos, enfadonhos, difíceis de compreender e de digerir, e nem, às vezes, os títulos são sugestivos. Por isso mesmo quem escreve, tem o dever de dizer o melhor que sabe, de que lhe é possível. Escrever é comunicar com alguém. Escrever, para deleite próprio, é dar de si bem pouco. Muito se fala atualmente, sobre a qualidade do ensino em Portugal. Afinal que ensino que temos nós? Como não poderia deixar de ser, a culpa de ser mau recai sempre sobre os professores, ora porque não compreendem os alunos, ora porque não sabem dar aulas ou porque faltam muito etc. etc. Contudo existem certos pormenores que geralmente são ocultados, propositadamente ou não, por quem critica (nomeadamente alunos e seus respetivos pais).

O professor, hoje em dia, deve ser o trabalhador que mais pessoas tem para o controlar. Senão vejamos: Em cada cinquenta minutos são controlados pelo pessoal (vulgo funcionários) que forma uma idêntica brigada do "carimbo vermelho" com o qual se regozija a carimbar a palavra FALTA no livro de ponto, muitas vezes com o professor na escola, mas impedindo de vir ou de estar presente na sala de aula nos minutos seguintes ao toque de entrada.

Sistematicamente pelos alunos que, com um poder cada vez mais crescente, usam e abusam de competências que não lhe são atribuídas.

Pelos encarregados de educação (e, pasme-se, parentes!) que não têm qualquer problema em se dirigir a uma escola para criticar, muitas vezes verbalmente, as atitudes dos professores. A questão que coloco nesta altura é a seguinte: que pessoas estamos nós a formar?

Os alunos que, atualmente, ameaçam física e verbalmente os professores, que insultam os funcionários, que em pretensa solidariedade para colegas que são postos fora da sala das aulas se levantam e saem também e saem também da sala sem autorização do professor e que, sistematicamente, apresentam queixas num conselho diretivo complacente, irão ser os futuros médicos, advogados, professores, engenheiros, etc, deste país!!! Que Presidente da República iremos nós ter? Alguém que já insultou professores? E que primeiro ministro? Quem já agrediu professores? Ou alguém que já foi suspenso por diversas vezes? Todo o processo de ensino tem que passar por uma profunda reflexão entre todos os nele intervenientes. A função do professor é a de formar os alunos transmitindo-lhes  conhecimentos cienficos e a de complementar a educação recebida em casa. Ora se a maioria dos alunos se comporta com uma total falta de educação, então a tarefa do professor toma-se quase utópica.

Toma-se imperativo alertar os pais dos alunos para esta distinção, entre educar e formar. já que não é possível educar todos os pais. Apesar de tudo a família, tem que ser a principal escola de valores. Tem que educar e fornecer conhecimentos, sobretudo comunicar e desenvolver conhecimentos que estruturem a personalidade. Tem que transmitir a franqueza, a coerência, a dignidade pessoal, mas também juntar valores como o sentido do trabalho, a justiça, e a aceitação do outro, ajudando a eleva-lo.

Sei de pais ricos, o amor que têm pelos filhos adolescentes e do desejo que têm em vê-los felizes. Daí a preocupação em satisfazer-lhes continuamente as vontades. Numa altura, compram a bicicleta, depois a mota, depois o carro. Paralelamente vão aparecendo as aparelhagens sonoras, os computadores, os aparelhos de televisão, as aparelhagens de DVD. Uma parte destes equipamentos o mesmo para ir instalando no quarto dos (das) meninos (as). o, entretanto dizendo que estas ofertas só irão aparecendo como prémios do rendimento positivo que apesar de tudo, vão conseguindo. E os jovens até vão estudando o suficiente a pensar no novo prémio em que sonham e de que já deram conhecimento aos pais.

Com esta estratégia na base da relação pais/filhos esquecem duas coisas importantes: que tais equipamentos no quarto dos jovens, que é normalmente onde estudam, funcionam como um poderoso fator de dispersão quando só um ambiente simples pode funcionar como fator estimulante de concentração. E isto de estudar a pensar obsessivamente no próximo prémio, quase deixa a perder de vista o grande objetivo do estudo que é o sentir que estudar é o grande investimento no futuro.

Estes (as) meninos (as) certamente com base no nível económico dos pais e no ambiente de conforto em que vivem, julgar-se-ão até possuidores de um estatuto especial ao abrigo do qual já não acompanham com qualquer pobretana mesmo que a nível de educação e comportamento nada haja a apontar-lhe. Os pais pensarão que isto está correto, como é óbvio. Em minha opinião, este não é o melhor caminho para os adolescentes crescerem por dentro como PESSOAS. No confronto de ideias que se estabelece, ganham lucidez e consistência no seu porte. Começam a tornar-se conscientes, de modo mais fundamentado, dos limites da liberdade de ação de cada um face à liberdade de ação dos outros. Desenvolve-se, portanto, a capacidade do conhecimento e da expressão.

Pode haver outras formas de se concretizar o que digo. Mas é este o meu pensar, no viver de tantos anos, no envelhecimento, do qual ninguém foge.

Envelhecer é um processo em que todos estamos envolvidos, ainda de que formas muito diversas.

Começamos a envelhecer assim que nascemos, mas, por razões mais que claras, temos pressa de chegar aos vinte anos e começamos a perceber que o tempo passa quando atravessamos os trinta. Aos quarenta fica-se oficialmente a envelhecer, e por aí que o desassossego se instala. Uns fazem cirurgias estéticas, imp.lantes de cabelo, mentem nos anos, comparam-se com os da geração anterior como se fossem ancestrais e têm comentários "saborosos" nas costas dos amigos, do género "está tão velho", ou então, "está tão acabado", como se o próprio espelho continuasse a refletir a imagem virtualmente desejada. Outros arranjam mulheres ou homens bem mais novos, como se a juventude fosse contagiosa e os anos se perdessem como num sistema de vasos comunicantes.

Depois há os que produzem o célebre discurso "agora só me interessam os meus filhos", e até fica a parecer que sim, porque falam dos filhos, das casas dos filhos, sucessos dos filhos, dos problemas dos filhos, como se os coitados fossem débeis profundos incapazes de gerir as pprias vidas e estivessem cá exclusivamente para manter os pais atentos vigilantes e preocupados.

Um outro estilo possível é o dos que adoecem e se entretêm tanto com as doenças como as crianças com os brinquedos. Para esses, o envelhecimento não existe, porque tudo passa pela dor e o mal-estar, as idas aos médicos e os próximos exames de nomes complicados. A cronicidade do desconforto serve para o que serve e liquida todos os outros assuntos, nomeadamente a idade que passa. Há ainda os que acham publicamente que o envelhecimento e a biografia se cruzam, às vezes de forma irrelevante, e que por isso mesmo a idade é um atributo acessório e irrisório.

Existem, finalmente, uns poucos que envelhecem como ficaram adultos ou como foram crescendo e sendo gente ao ritmo natural dos dias e das noites, dos meses e dos anos, no contínuo de um tempo que apenas é.

Seja de que forma for, com angústias ou displicentemente, cheios de fantasmas terríveis e miserabilistas ou com sonhos simpáticos de reformas antecipadas à beira-mar, o certo é que envelhecemos todos, ao mesmo tempo, exatamente o que nos compete, sem adiamentos nem prorrogações de prazos.

Envelhecemos exatamente como vivemos e apenas um dia de cada vez. Todos os dias.
 
Por: Jeco 

 
         lat-liga dos amigos do Tortosendo - boletim no.S5- 4° .trimestre/2013