Reproduzimos este texto "roubado" no Boletim da LAT |
Diz quem sabe que a
maioria dos portugueses só entende o sentido e o significado de seiscentas palavras e nestas já estão as do dia a dia, ou seja, as de uso
comum. De muitas outras têm apenas uma ideia aproximada e, de algumas, que são
muitas, não têm qualquer compreensão. Uma escolaridade deficiente e o pouco hábito
e gosto pela leitura explicam esta situação
de empobrecimento generalizado.
Hoje disfarça-se um pouco com a erudição dos programas mais pobres da televisão que alguém classificou pouco estimulantes e muito estupidificantes.
Hoje disfarça-se um pouco com a erudição dos programas mais pobres da televisão que alguém classificou pouco estimulantes e muito estupidificantes.
É verdade, também
acontece com frequência, que quem escreve e fala para o público parece estar pouco preocupado com ele e com a sua capacidade de aprendizagem e de compreensão. Mesmo na imprensa
regional, a mais lida pelo povo em geral, tudo convida para se ficar nas notícias
lá da terra ou numa ou noutra coisa, que, pelo título,chame a atenção. Os
artigos de formação são normalmente, longos, enfadonhos, difíceis de
compreender e de digerir, e nem, às vezes, os títulos são
sugestivos. Por isso mesmo quem escreve, tem o dever de dizer o melhor
que sabe, de que lhe é possível. Escrever é comunicar com alguém. Escrever, para deleite próprio, é dar de si bem pouco. Muito
se fala atualmente, sobre a qualidade do ensino em Portugal. Afinal
que ensino que temos nós? Como não poderia deixar de ser, a culpa de ser mau
recai sempre sobre os professores, ora porque não compreendem os alunos, ora
porque não sabem dar aulas ou porque faltam muito etc. etc. Contudo
existem certos pormenores que geralmente são ocultados, propositadamente ou
não, por quem critica (nomeadamente alunos e seus respetivos pais).
O professor, hoje
em dia, deve ser o trabalhador que mais pessoas tem para o controlar. Senão
vejamos: Em cada cinquenta minutos são controlados pelo pessoal (vulgo
funcionários) que forma uma idêntica brigada do "carimbo vermelho"
com o qual se regozija a carimbar a palavra FALTA no livro de ponto, muitas
vezes com o professor na escola, mas impedindo de vir ou de estar presente na
sala de aula nos minutos seguintes ao toque de entrada.
Sistematicamente
pelos alunos que, com um poder cada vez mais crescente, usam e abusam de
competências que não lhe são atribuídas.
Pelos encarregados
de educação (e, pasme-se, parentes!) que não têm qualquer problema em se dirigir
a uma escola para criticar, muitas vezes
verbalmente, as atitudes dos professores. A
questão que coloco nesta altura é a seguinte: que pessoas estamos nós a formar?
Os alunos
que, atualmente, ameaçam física e verbalmente os professores, que
insultam os funcionários, que em pretensa
solidariedade para colegas que são postos fora da sala das aulas
se levantam e saem também e saem também da sala sem autorização
do professor e que, sistematicamente, apresentam queixas
num conselho diretivo complacente, irão ser os futuros
médicos, advogados, professores, engenheiros, etc, deste
país!!! Que Presidente da República iremos nós ter? Alguém que já insultou
professores? E que primeiro ministro? Quem já
agrediu professores? Ou alguém que já foi suspenso por
diversas vezes? Todo o processo de ensino tem
que passar por uma profunda reflexão entre
todos os nele intervenientes. A função do professor
é a de formar os alunos transmitindo-lhes conhecimentos científicos
e a de complementar a educação recebida em casa. Ora se a maioria
dos alunos se comporta com uma total falta de educação, então
a tarefa do professor toma-se quase utópica.
Toma-se imperativo
alertar os pais dos alunos para esta distinção, entre educar e formar. já
que não é possível educar todos os pais. Apesar de tudo
a família, tem que ser a principal escola de
valores. Tem que educar e fornecer conhecimentos, sobretudo comunicar e desenvolver conhecimentos
que estruturem a personalidade. Tem que transmitir
a franqueza, a coerência, a dignidade pessoal, mas
também juntar valores como o sentido do
trabalho, a justiça, e a aceitação do outro, ajudando a
eleva-lo.
Sei de pais ricos,
o amor que têm pelos filhos adolescentes e do desejo que
têm em vê-los felizes. Daí a preocupação em satisfazer-lhes
continuamente as vontades. Numa altura, compram a bicicleta, depois a mota, depois o
carro. Paralelamente vão aparecendo as aparelhagens sonoras,
os computadores, os aparelhos de televisão, as aparelhagens de DVD. Uma parte destes equipamentos
são mesmo para ir instalando no quarto dos
(das) meninos (as). Vão, entretanto dizendo que estas ofertas só irão aparecendo como prémios do rendimento
positivo que apesar de tudo, vão conseguindo. E
os jovens até vão estudando o suficiente a pensar no novo prémio em que sonham e de
que já deram conhecimento aos pais.
Com
esta estratégia na base da relação pais/filhos
esquecem duas coisas importantes:
que tais equipamentos no quarto dos jovens, que é normalmente onde estudam, funcionam como um poderoso
fator de dispersão quando só um ambiente simples pode funcionar como fator estimulante
de concentração. E isto de estudar
a pensar obsessivamente no próximo prémio, quase deixa
a perder de vista o grande objetivo do estudo que é o sentir
que estudar é o grande investimento no futuro.
Estes (as) meninos
(as) certamente com base
no nível económico dos pais
e no ambiente de conforto em que vivem,
julgar-se-ão até possuidores de um estatuto
especial ao abrigo do qual já não acompanham com qualquer pobretana mesmo que a nível de educação e comportamento nada
haja a apontar-lhe. Os pais pensarão que isto está correto, como é óbvio. Em minha opinião, este não é
o melhor caminho para os adolescentes crescerem por dentro como PESSOAS.
No confronto de ideias que se estabelece, ganham lucidez e consistência no seu
porte. Começam a tornar-se conscientes, de modo mais fundamentado, dos limites
da liberdade de ação de cada um face à liberdade de ação dos outros. Desenvolve-se, portanto,
a capacidade do conhecimento e da expressão.
Pode haver outras
formas de se concretizar o que digo. Mas é este o meu pensar, no viver de
tantos anos, no envelhecimento, do qual
ninguém foge.
Envelhecer é um
processo em que todos estamos envolvidos, ainda de que formas muito diversas.
Começamos a
envelhecer assim que nascemos, mas, por razões mais que claras,
temos pressa de chegar aos vinte anos e começamos a perceber que o tempo passa
quando atravessamos os trinta. Aos quarenta fica-se oficialmente
a envelhecer, e por aí que o desassossego se instala. Uns fazem cirurgias
estéticas, imp.lantes de cabelo, mentem nos anos, comparam-se
com os da geração anterior como se fossem ancestrais e têm comentários "saborosos"
nas costas dos amigos, do género "está tão velho", ou então, "está
tão acabado", como se o próprio espelho continuasse a
refletir a imagem virtualmente desejada. Outros
arranjam mulheres ou homens bem mais novos, como
se a juventude fosse contagiosa e os anos se perdessem como num sistema
de vasos comunicantes.
Depois há
os que produzem o célebre discurso "agora só me interessam os meus filhos", e até
fica a parecer que sim, porque falam dos filhos, das casas dos filhos, sucessos
dos filhos, dos problemas dos filhos, como se os coitados fossem débeis profundos
incapazes de gerir as próprias vidas e estivessem cá exclusivamente para manter os pais atentos vigilantes e
preocupados.
Um outro estilo
possível é o dos que adoecem
e se entretêm tanto com as doenças como as crianças com os brinquedos. Para
esses, o envelhecimento não existe, porque tudo passa pela dor e o mal-estar,
as idas aos médicos e os próximos exames de nomes complicados.
A cronicidade do desconforto serve para o que serve e liquida
todos os outros assuntos, nomeadamente a idade que passa. Há ainda
os que acham publicamente que o envelhecimento e a biografia se cruzam, às vezes de forma irrelevante, e que por
isso mesmo a idade é um atributo
acessório e irrisório.
Existem, finalmente,
uns poucos que envelhecem como ficaram adultos ou como
foram crescendo e sendo gente ao ritmo natural dos
dias e das noites, dos meses e dos anos, no
contínuo de um tempo que apenas é.
Seja
de que forma for, com angústias
ou displicentemente, cheios de fantasmas terríveis
e miserabilistas ou com sonhos simpáticos de reformas antecipadas à beira-mar,
o certo é que envelhecemos todos, ao mesmo tempo, exatamente o que nos compete, sem adiamentos
nem prorrogações de
prazos.
Envelhecemos exatamente como vivemos e apenas um dia de cada vez. Todos os dias.
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