sábado, 22 de fevereiro de 2014

TORTOSENDO ... FALADO

Reproduzimos este texto "roubado" no Boletim da LAT
Diz quem sabe que a maioria dos portugueses só entende o sentido e o significado de  seiscentas palavras e nestas já estão as do dia a dia, ou seja, as de uso comum. De muitas outras têm apenas uma ideia aproximada e, de algumas, que são muitas, não têm qualquer compreensão. Uma escolaridade deficiente e o pouco hábito e gosto pela leitura explicam esta situação de empobrecimento generalizado.
Hoje disfarça-se um pouco com a erudição dos programas mais pobres da televisão que alguém classificou pouco estimulantes e muito estupidificantes.

É verdade, também acontece com frequência, que quem escreve e fala para o público parece estar pouco preocupado com ele e com a sua capacidade de  aprendizagem e de compreensão. Mesmo na imprensa regional, a mais lida pelo povo em geral, tudo convida para se ficar nas notícias lá da terra ou numa ou noutra coisa, que, pelo título,chame a atenção. Os artigos de formação são normalmente, longos, enfadonhos, difíceis de compreender e de digerir, e nem, às vezes, os títulos são sugestivos. Por isso mesmo quem escreve, tem o dever de dizer o melhor que sabe, de que lhe é possível. Escrever é comunicar com alguém. Escrever, para deleite próprio, é dar de si bem pouco. Muito se fala atualmente, sobre a qualidade do ensino em Portugal. Afinal que ensino que temos nós? Como não poderia deixar de ser, a culpa de ser mau recai sempre sobre os professores, ora porque não compreendem os alunos, ora porque não sabem dar aulas ou porque faltam muito etc. etc. Contudo existem certos pormenores que geralmente são ocultados, propositadamente ou não, por quem critica (nomeadamente alunos e seus respetivos pais).

O professor, hoje em dia, deve ser o trabalhador que mais pessoas tem para o controlar. Senão vejamos: Em cada cinquenta minutos são controlados pelo pessoal (vulgo funcionários) que forma uma idêntica brigada do "carimbo vermelho" com o qual se regozija a carimbar a palavra FALTA no livro de ponto, muitas vezes com o professor na escola, mas impedindo de vir ou de estar presente na sala de aula nos minutos seguintes ao toque de entrada.

Sistematicamente pelos alunos que, com um poder cada vez mais crescente, usam e abusam de competências que não lhe são atribuídas.

Pelos encarregados de educação (e, pasme-se, parentes!) que não têm qualquer problema em se dirigir a uma escola para criticar, muitas vezes verbalmente, as atitudes dos professores. A questão que coloco nesta altura é a seguinte: que pessoas estamos nós a formar?

Os alunos que, atualmente, ameaçam física e verbalmente os professores, que insultam os funcionários, que em pretensa solidariedade para colegas que são postos fora da sala das aulas se levantam e saem também e saem também da sala sem autorização do professor e que, sistematicamente, apresentam queixas num conselho diretivo complacente, irão ser os futuros médicos, advogados, professores, engenheiros, etc, deste país!!! Que Presidente da República iremos nós ter? Alguém que já insultou professores? E que primeiro ministro? Quem já agrediu professores? Ou alguém que já foi suspenso por diversas vezes? Todo o processo de ensino tem que passar por uma profunda reflexão entre todos os nele intervenientes. A função do professor é a de formar os alunos transmitindo-lhes  conhecimentos cienficos e a de complementar a educação recebida em casa. Ora se a maioria dos alunos se comporta com uma total falta de educação, então a tarefa do professor toma-se quase utópica.

Toma-se imperativo alertar os pais dos alunos para esta distinção, entre educar e formar. já que não é possível educar todos os pais. Apesar de tudo a família, tem que ser a principal escola de valores. Tem que educar e fornecer conhecimentos, sobretudo comunicar e desenvolver conhecimentos que estruturem a personalidade. Tem que transmitir a franqueza, a coerência, a dignidade pessoal, mas também juntar valores como o sentido do trabalho, a justiça, e a aceitação do outro, ajudando a eleva-lo.

Sei de pais ricos, o amor que têm pelos filhos adolescentes e do desejo que têm em vê-los felizes. Daí a preocupação em satisfazer-lhes continuamente as vontades. Numa altura, compram a bicicleta, depois a mota, depois o carro. Paralelamente vão aparecendo as aparelhagens sonoras, os computadores, os aparelhos de televisão, as aparelhagens de DVD. Uma parte destes equipamentos o mesmo para ir instalando no quarto dos (das) meninos (as). o, entretanto dizendo que estas ofertas só irão aparecendo como prémios do rendimento positivo que apesar de tudo, vão conseguindo. E os jovens até vão estudando o suficiente a pensar no novo prémio em que sonham e de que já deram conhecimento aos pais.

Com esta estratégia na base da relação pais/filhos esquecem duas coisas importantes: que tais equipamentos no quarto dos jovens, que é normalmente onde estudam, funcionam como um poderoso fator de dispersão quando só um ambiente simples pode funcionar como fator estimulante de concentração. E isto de estudar a pensar obsessivamente no próximo prémio, quase deixa a perder de vista o grande objetivo do estudo que é o sentir que estudar é o grande investimento no futuro.

Estes (as) meninos (as) certamente com base no nível económico dos pais e no ambiente de conforto em que vivem, julgar-se-ão até possuidores de um estatuto especial ao abrigo do qual já não acompanham com qualquer pobretana mesmo que a nível de educação e comportamento nada haja a apontar-lhe. Os pais pensarão que isto está correto, como é óbvio. Em minha opinião, este não é o melhor caminho para os adolescentes crescerem por dentro como PESSOAS. No confronto de ideias que se estabelece, ganham lucidez e consistência no seu porte. Começam a tornar-se conscientes, de modo mais fundamentado, dos limites da liberdade de ação de cada um face à liberdade de ação dos outros. Desenvolve-se, portanto, a capacidade do conhecimento e da expressão.

Pode haver outras formas de se concretizar o que digo. Mas é este o meu pensar, no viver de tantos anos, no envelhecimento, do qual ninguém foge.

Envelhecer é um processo em que todos estamos envolvidos, ainda de que formas muito diversas.

Começamos a envelhecer assim que nascemos, mas, por razões mais que claras, temos pressa de chegar aos vinte anos e começamos a perceber que o tempo passa quando atravessamos os trinta. Aos quarenta fica-se oficialmente a envelhecer, e por aí que o desassossego se instala. Uns fazem cirurgias estéticas, imp.lantes de cabelo, mentem nos anos, comparam-se com os da geração anterior como se fossem ancestrais e têm comentários "saborosos" nas costas dos amigos, do género "está tão velho", ou então, "está tão acabado", como se o próprio espelho continuasse a refletir a imagem virtualmente desejada. Outros arranjam mulheres ou homens bem mais novos, como se a juventude fosse contagiosa e os anos se perdessem como num sistema de vasos comunicantes.

Depois há os que produzem o célebre discurso "agora só me interessam os meus filhos", e até fica a parecer que sim, porque falam dos filhos, das casas dos filhos, sucessos dos filhos, dos problemas dos filhos, como se os coitados fossem débeis profundos incapazes de gerir as pprias vidas e estivessem cá exclusivamente para manter os pais atentos vigilantes e preocupados.

Um outro estilo possível é o dos que adoecem e se entretêm tanto com as doenças como as crianças com os brinquedos. Para esses, o envelhecimento não existe, porque tudo passa pela dor e o mal-estar, as idas aos médicos e os próximos exames de nomes complicados. A cronicidade do desconforto serve para o que serve e liquida todos os outros assuntos, nomeadamente a idade que passa. Há ainda os que acham publicamente que o envelhecimento e a biografia se cruzam, às vezes de forma irrelevante, e que por isso mesmo a idade é um atributo acessório e irrisório.

Existem, finalmente, uns poucos que envelhecem como ficaram adultos ou como foram crescendo e sendo gente ao ritmo natural dos dias e das noites, dos meses e dos anos, no contínuo de um tempo que apenas é.

Seja de que forma for, com angústias ou displicentemente, cheios de fantasmas terríveis e miserabilistas ou com sonhos simpáticos de reformas antecipadas à beira-mar, o certo é que envelhecemos todos, ao mesmo tempo, exatamente o que nos compete, sem adiamentos nem prorrogações de prazos.

Envelhecemos exatamente como vivemos e apenas um dia de cada vez. Todos os dias.
 
Por: Jeco 

 
         lat-liga dos amigos do Tortosendo - boletim no.S5- 4° .trimestre/2013  

 

 

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