Como está a ser feita
a manipulação da opinião pública
contra o “Estado Social" pela direita em
Portugal
Os mitos e as
mentiras da direita no ataque ao Estado Social
pela 2ª vez a Constituição da República, é previsível que os ataques às funções sociais do Estado, por parte deste governo e dos seus defensores nos media se intensifiquem ainda mais. E a arma mais utilizada, para procurar manipular a opinião pública, será certamente a mentira.E as mais utilizadas para enganar a opinião pública, à semelhança do que tem acontecido nos últimos tempos, serão certamente as seguintes:
(1) Sem o empréstimo da "troika" não haveria dinheiro para pagar salários e pensões;
(2) A despesa do Estado em Portugal é muito superior à de outros países da U.E.;
(3) As despesas do Estado em Portugal com a saúde, educação e a segurança social são insustentáveis.
Por isso interessa já desmontar de uma forma clara e objetiva essas mentiras, e para isso utilizaremos os próprios dados oficiais.
Comecemos pela 1ª mentira da direita sobre o empréstimo da "troika" para pagar pensões e salários.
Segundo o Ministério das Finanças, em 2011, as receitas dos impostos e contribuições foram superiores à soma das despesas com Pessoal das Administrações Públicas mais despesas
com pensões e outras prestações (inclui saúde), em + 4.229,6 milhões €; em 2012 esse excedente subiu para + 4.454,1 milhões €. E não consideramos todas
das Administrações Públicas. Ainda existem "Outras receitas" que, em 2012, foram mais 9.606,2
milhões €. Afirmar, como fazem muitos comentadores, que o Estado foi obrigado a pedir o empréstimo à "troika" porque não tinha dinheiro para pagar salários e pensões é ou ignorância ou a intenção de mentir descaradamente para enganar a opinião pública, pois os impostos
e contribuições pagas todos os anos pelos portugueses são mais que suficientes para pagar aquelas despesas. l
Portugal paga uma taxa de juro média de 3,4%, quando custa aos credores uma taxa média de 1,4%, e à Alemanha apenas O,5%; a solidariedade!)
Outra mentira é que a despesa do Estado em Portugal é superior à de outros países, e por isso tem de ser significa' amen e reduzida. Segundo o Eurostat, em 2011 a despesa total das Administrações
Públicas em Portugal representou 49,4%. do PIB português, quando a média na U.E, situava-se entre os 49,1% e 49,5%, portanto um valor praticamente igual. E em 2012, segundo o relatório do OE-2013 do Ministério Finanças, a despesa de todas as inlstrações Públicas (Central, Local e Regional) em Portugal reduziu-se para apenas 45,6%. E neste valor estão uncluídos os juros da dívida que atingiram 7.038,9 milhões € em 2012. Se o deduzimos desce para apenas 41,4%.
Afirmar ou insinuar, como muitos fazem, que a despesa pública em Portugal é excessiva é ou
ignorância ou a intenção de enganar a opinião pública.
Em relação à afirmação de que as despesas do Estado com as funções sociais em Portugal são excessivas e insustentáveis por isso é necessário reduzir a despesa significativamente, interessa
dizer que, segundo o Eurostat, em 2011 a despesa pública com a saúde em Portugal correspondeu
apenas 6,8% do PIB quando a média na União Europeia variava entre 7,3% e 7,4%.
Em euros por habitante, em 2011, em Portugal o gasto público com a saúde foi apenas de 1.097€, quando a média nos países da U.E. variava entre 1.843€ (+68% do que em Portugal) e 2.094€ (+91). O mesmo se verifica em relação à proteção social, que inclui as pensões. Segundo o Eurosta em 2011 a des esa pública com a proteção social em Portugal correspondia apenas a 18,1% do PIB quando a média na União Europeia variava entre 19,6% e 20,2% do PIB.
Em euros por habitante, a diferença era ainda muito maior, Em Portugal o gasto público com a proteção social por habitante era apenas de 2.910€,quanto a média nos países da União Europeia
variava entre 4.932€ (+69% do que em Portugal) e 5.716€ (+96%). E nos países desenvolvidos a despesa por habitante era muito superior (Bélgica:+126%; Dinamarca:+274%; Alemanha: + 114%).
Mesmo se consideramos a totalidade da despesa com a saúde, educação e segurança social,
em 2011 ela representava em Portugal 63,4% da despesa total do Estado era de 65,7%.
Fazer cortes significativos na despesa com as funções sociais do Estado com a justificação de que essas despesas em Portugal são excessivas e superiores às dos outoros países da U.E. é ou ignorância ou uma mentira para enganar a opinião pública.
O que é insutentável
e inaceitável é uma política recessiva aplicada em Portugal em plena recessão
económica, que está a causar uma quebra acentuada nas receitas do Estado e nas
contribuições da Segurança Social, o que põe em perigo não só a
sustentabilidade das funções sociais do Estado mas a do próprio Estado. Mais
cortes na despesa pública só agravam a situação. Como dizia Keynes, só imbecis
é que não entendem isso.
Eugénio Rosa - Economista
In – Jornal a Voz dos
Reformados
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